terça-feira, 20 de março de 2012

Obra de Aziz Ab'Saber fará parte da coleção 'Leituras Indispensável



Na última sexta-feira, o Movimento Sem Terra (MST) publicou uma nota lamentando a morte do professor Aziz Ab’Saber. Aziz morreu em sua casa, em São Paulo, aos 87 anos. Mas sua história vai muito além de sua colaboração com o movimento. Estudioso da área ambiental e da geografia, ele foi autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais e dos impactos ambientais no Brasil. Suas pesquisas e tratados tiveram relevância internacional nas áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia.
Como que em um gesto de despedida involuntário, Ab’Saber visitou a sede da  Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual era presidente de honra, e entregou à secretaria sua obra consolidada, com suas pesquisas desde 1946 a 2010.
 “Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD fosse levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, disse Ab'Saber.
Aziz autografa livro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP 
Aziz autografa livro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP 
Sua última obra será o terceiro volume da coleção Leituras Indispensáveis, a ser publicado pela SBPC, e traz uma homenagem ao trabalho dos primeiros geógrafos no interior do Brasil. Helena Nader, presidente da SBPC, ressalta que, apesar da aposentadoria, Aziz não deixou de manter a atividade acadêmica e intelectual.
 “O professor Aziz mantinha uma lucidez impressionante e estava extremamente ativo, dedicando-se a causas da máxima importância para a humanidade. Nos tempos recentes, ele vinha lutando para que fossem ouvidas suas sérias críticas à proposta de reforma do Código Florestal, que, em sua visão, não leva em consideração o zoneamento físico e ecológico do Brasil. Sua morte foi uma perda irreparável”, disse Helena.
Código da Biodiversidade
O estudioso era um crítico do projeto de reforma do Código Florestal brasileiro, em tramitação no Congresso Nacional. Ele defendia a criação de um Código de Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais em todos os biomas brasileiros.
“Enquanto o mundo inteiro trabalha para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas”, criticou o estudioso em um artigo.
Para ele, a utopia de um desenvolvimento com o máximo de florestas em pé não poderia ser eliminada em função de mudanças radicais do Código Florestal.
Premiado
Ab'Saber recebeu diversos prêmios, como o Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005) e em ciências exatas (2007), o Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra da Academia Brasileira de Ciências e o PrêmioUnesco para Ciência e Meio Ambiente (2001). Ganhou também o Prêmio Fundação Conrado Wessel em 2005 e recebeu o título de professor honoris causa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2006.
Fonte: Agência Fapesp

quarta-feira, 7 de março de 2012

PIBID Geografia - UFV: Livros falados para pessoas cegas ou com baixa vis...

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Geografia focada no cotidiano estimula participação de aluno


Pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostra que a Geografia pode se tornar um instrumento de transformação social junto aos alunos, a partir do trabalho desenvolvido em sala de aula. O trabalho da pesquisadora Sandra Castro Pereira verificou que a realização de atividades que relacionem a geografia ao cotidiano do local que os alunos vivem leva a um maior interesse e participação nas aulas. Ao mesmo tempo, as propostas curriculares oficiais têm sido voltadas, principalmente, para melhorar a posição das escolas em rankings de desempenho, podendo não representar aprendizado efetivo.
Preparação das aulas era prejudicada por falta de textos complementares
A pesquisa acompanhou a aplicação da proposta curricular implantada pelo governo do Estado de São Paulo em 2008 em uma classe da 5a série do ensino fundamental, numa escola de São Paulo. “Na ocasião havia apenas o caderno do professor, por isso a aplicação dependia do livro didático fornecido pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do governo federal, ou da matéria passada na lousa”, conta. “O conteúdo do livro era divergente das diretrizes e, devido a múltipla jornada de trabalho dos professores, não havia tempo para buscar outros textos, além de faltar recursos para reproduzi-los e preparar melhor as aulas”.
A escolha da 5a série se deve ao fato de ser o início de um novo ciclo no ensino fundamental e o primeiro contato dos alunos com a Geografia por intermédio de um professor especialista. ”Ao mesmo tempo, outros professores relataram dificuldades em trabalhar com essa série”, diz Sandra. Uma recuperação realizada em todo o estado de São Paulo, no início do ano letivo, focou o conteúdo de geografia vinculado a matemática (escala). “Isto dificultou a aplicação pois os alunos ainda não haviam aprendido as operações necesssárias para tal realização, além das atividades não apresentarem uma contextualização com o cotidiano do estudante, o que inevitavelmente levou a uma grande indiferença diante a proposta de recuperação”.
Participação
A indiferença começou a ser rompida com um trabalho diferenciado em sala de aula. “Os conceitos de geografia passaram a ser trabalhados visando o entendimento das questões referentes ao bairro em que os alunos viviam”, aponta a pesquisadora. O conteúdo focalizado aumentou o interesse dos alunos, que em seguida realizaram um trabalho de elaboração de maquetes. “Durante a montagem, a classe demonstrou grande criatividade”.
Durante um bimestre, os estudantes tiveram aulas sobre os setores das atividades econômicas. “Pelas diretrizes oficiais, o curso deveria focar em alguma cadeia de produção específica, como a da indústria automobilística ou da laranja”, diz Sandra. “No entanto, como os alunos não dominavam os aspectos mais gerais sobre o tema, optou-se por um enfoque amplo da atividade econômica.”
De acordo com a pesquisadora, o governo do Estado também implantou estratégias que assegurem a aplicação de sua proposta curricular. “Os professores não efetivos fazem uma prova com base nas diretrizes para que possam dar aulas e os concursos públicos agora incluem um curso de quatro meses sobre o currículo oficial”, afirma. “Existe todo um sistema de promoções por mérito e bonificações, atrelado ao Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), que faz com que os professores sigam as diretrizes, num esforço para obter um melhor desempenho na avaliação”.
A pressão por resultados acaba levando a promoção automática dos alunos, mesmo que não tenham aprendido os conteúdos ensinados ao longo do ano. “A experiência com a classe de geografia demonstrou que é possível fazer da sala de aula um espaço transformador, mesmo com as exigências das propostas curriculares, muitas vezes voltadas apenas para melhorar o desempenho das escolas nas avaliações oficiais do ensino”, conclui Sandra.  O trabalho teve orientação da professora Glória da Anunciação Alves, da FFLCH.